sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A Voz do personagem

Este blogue serve de apoio à divulgação da oficina "A Voz da Personagem", orientada pelo dramaturgo português Joaquim Paulo Nogueira, de 5 a 20 de Agosto (prática supervisionada à distância) e de 24 a 30 de Agosto, das 14h às 17h, no Teatro Estação, em Teresina - Piauí.
A oficina decorre no âmbito do Festival de Teatro Lusófono, organizado pelo Grupo de Teatro Hárem que celebra os seus 23 anos de actividade.


Neste blogue estão presentes os textos de lançamento da oficina no blogue A Voz do Personagem que até à finalização da oficina terá o seu acesso restrito aos participantes da Oficina, que o utilizarão como plataforma de trabalho. No final da oficina o blogue passará a ter domínio público.

O que vai ser A Voz do Personagem?

A oficina ou atelier, será um espaço em que jovens autores, ou pessoas interessadas em trabalhar com os processos e metodologias da escrita teatral, irão subordinar-se a uma experiência muito concreta de exploração e reflexão sobre a personagem enquanto elemento fundamental da construção de um texto dramático.
Iremos trabalhar sobre a natureza múltipla da personagem teatral, utilizando propostas que também são credoras dos métodos de criação de um papel, ou da personagem, que já fazem parte da teoria teatral contemporânea. Teremos como fonte de inspiração experiências tão diversas como o trabalho de Stanislavski no teatro, por exemplo, ou de Sanchis Sinisterra, na escrita dramática, ou até os jogos infantis do faz-de-conta.

Procuraremos, assim, trabalhar sobre a personagem teatral que vive tensionada pelas suas várias dimensões, quer enquanto projecção de uma determinada figuração humana (com uma estória, um lugar de onde veio, onde vive, uma filiação, um carácter, uma singularidade expressiva), quer enquanto parte integrante de um determinado sistema narrativo (o modo como participa num tempo, num espaço e num determinado enredo ficcional), quer ainda enquanto projecção da idiossincrasia do autor e, finalmente, enquanto projecção de uma determinada existência figurativa na linguagem.

Como iremos trabalhar?

[Imagem de Augusto Baptista, do espectáculo A Fronteira (direcção de Rogério de Carvalho), criado no 1º Estágio Internacional de Actores Lusófonos, 1998]

O trabalho será dividido em duas fases. A primeira, à distância, entre 5 e 20 de Agosto; a segunda, em presença, de 24 a 30 de Agosto.

1ª FASE

A primeira fase irá ser constituída pelos seguintes momentos:

1. Observação de pessoas na vida quotidiana

Os participantes irão definir livremente um período e um local para a realização da experiência de observação. Deverão ter em conta os ritmos provocados pelo próprio ambiente do local escolhido (que são diferentes num jardim, numa praça, num hospital, num café, num hipermercado, por exemplo). Depois irão fazer o registo da observação centrada sobre a caracterização física e psicológica das pessoas observadas, tendo em conta o modo de andar, a compleição física, a atitude corporal, o olhar, o que estão a fazer, algum tique ou característica especial, o estado de espírito que aparentam, ou outro aspecto. E para finalizar, irão imaginar uma determinada estória para, pelo menos, uma das pessoas que observaram.

2. Criação da Personagem

Os participantes irão criar uma personagem à qual atribuirão um conjunto de elementos de identificação como o nome, data e local de nascimento, local de residência, filiação, descendência, profissão, aspectos físicos, dados da personalidade, conjunto das mais importantes relações que estabelecem (sociais, profissionais, familiares, íntimas).
Irão também definir a casa, a rua e a cidade da personagem.
3. Criação da Estória

Os participantes irão criar uma biografia da personagem assinalando um momento em que houve uma mudança, uma ruptura, uma descontinuidade, na sua vida. Terão também que identificar que tipo de mudança foi, se foi provocada por alguma condicionante do ambiente externo, familiar, profissional, afectivo, ou outra.

FASE

Na segunda fase, com sessões em presença, iremos trabalhar (também partindo de todas aquelas informações) através da emancipação da voz da personagem, explorando a sua discursividade, o modo como organiza o seu discurso, quer na maneira como fala de si, dos outros e do mundo, quer como se relaciona com a memória. Exploraremos também a descrição das acções físicas da personagem, as didascálias.
Para além da discussão sobre os materiais construídos na primeira fase, iremos retrabalhá-los através da criação de pequenos exercícios que exploram a voz da personagem. No fundo, iremos utilizar várias propostas muito utilizadas nas práticas de jogo dramático.
Nesta segunda fase iremos explorar a complexidade do discurso teatral, através de várias experiências sobre a oralidade, da sua conexão com o registo emocional, da articulação do discurso com as acções físicas, da introdução de saltos temáticos bruscos, do desfazamento entre pensamento e palavra, das interrupções, das reiterações, das contradições discursivas e muitas outras modalidades que produzem a riqueza do discurso dramático.

Como é que iremos trabalhar n' A Voz da Personagem II ?

O primeiro momento será o de formar a pequena comunidade de utilizadores do blogue que, durante a realização da oficina, será circunscrito aos participantes, ao orientador e à produção do Festival. Para isso, os participantes que se inscreverem na oficina serão convidados a contribuir através do endereço de e-mail que facultarem na ficha de inscrição e ao aceitarem o convite, escolherão livremente um username com o qual poderão começar a trabalhar como autores do blogue.
Para que a organização dos textos não se torne caótica, eles devem ser publicados com etiquetas que são visíveis no lado direito do ecrã. Haverá um conjunto de etiquetas para a 1ª Fase e outro para a 2ª Fase, relacionados com as propostas de trabalho de cada uma delas.
Assim, na 1ª Fase as etiquetas serão:
- Observação da Vida Quotidiana - Onde será integrado o texto de registo da observação consoante a proposta do exercício;
- Criação da Personagem - Onde serão integrados o texto criado para a caracterização da personagem (Criação da Personagem I) , bem como o monólogo em que ela fala sobre o lugar onde vive (Criação da Personagem II).
- Criação da Estória - Onde serão integrados o texto referente à biografia da personagem (criação da estória I) e o monólogo em que uma outra personagem narra a estória da personagem (criação da estória II).
A primeira fase deverá ser concluída até 20 de Agosto, pelo que se recomenda que os diferentes momentos possam ser realizados de forma intervalada. Sugere-se que a observação da vida quotidiana seja concluída até 9 de Agosto, a criação da personagem até 14 de Agosto, e a criação da estória até 20 de Agosto.

Materiais a realizar n' A Voz da Personagem

[Imagem de Susana Paiva]



1.
Registo de observação com invenção da estória a partir de uma determinada figura observada (Etiqueta: Observação da Vida Quotidiana)


Sugere-se a realização até 9 de Agosto.


2. Texto com caracterização da personagem.

3. Monólogo em que a personagem fala do espaço onde vive, descrevendo-o. Imaginar uma situação em que a personagem começa por ser continuamente interrompida por algo que se passa fora da cena. De cada vez que é interrompida há uma reiteração do discurso.

(Etiqueta: Criação da Personagem)


Sugere-se a realização até 14 de Agosto.



4. Sinopse da estória da personagem.

5. Monólogo em que uma outra personagem narra a estória da personagem, como se falasse para o microfone de um repórter (de tv ou rádio). A personagem cuja estória é narrada estará ausente e depreende-se que envolvida num acontecimento misterioso. A personagem que conta a estória não sabe que acontecimento é esse mas discorre, efabulando, sobre o mesmo.

(Etiqueta: Criação da Estória)


Sugere-se a realização até 20 de Agosto.




A Voz do Personagem - O orientador

[Imagem de Augusto Baptista]

Joaquim Paulo Nogueira, nasceu em Lisboa, em 21 de Maio de 1962.

Dos seus textos não representados, os que considera mais significativos são: "É para os Putos que não Querem Comer a Sopa", "Evaporação dos Pássaros", "O Naufrágio do Galeão" e "O Farol".

Com Domingos Galamba e João Paulo Baltazar, escreveu "Abril Futebol Clube" estreada em Abril de 2000, no Teatro Bar do Teatro da Trindade, e com Carlos Fragateiro fez "Mas Afinal Quem é Frank?", adaptação de textos de vários autores estreada em Maio de 1995, pela Efémero-Companhia de Teatro de Aveiro.

A partir de 1996, orientou algumas Oficinas de Escrita integradas em trabalhos multidisciplinares (com Luís Mourão, Fernando Mora Ramos, Carlos Alberto Augusto, Tiago Torres da Silva e Rogério de Carvalho). Do trabalho realizado com Rogério de Carvalho, resultou "A Fronteira" (colagem de textos elaborados pelos actores e por alguns dramaturgos lusófonos), espectáculo este apresentado no âmbito do 1º Estágio Internacional de Actores Lusófonos (1998).
Fez trabalho de jornalismo e divulgação teatral, tendo entrevistado, entre outros, Jacques Lecoq, Jean Pierre Ryngaert, Giséle Barret, João Brites e José Caldas. Tem comunicações e artigos publicados em Espanha e na Bélgica.
Fez parte da direcção da Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos, tendo organizado, de 2003 a 2005, a presença portuguesa no Salão do Livro de Teatro de Madrid, uma iniciativa da Associação de Autores de Teatro de Espanha.
Textos para teatro

 "Um Lugarzinho no Céu" (2008) – Teatro Altacena, da Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul. A estrear em Novembro de 2008.

 "Queixa Contra o Desconhecido" (2007) – Publicado online em Queixa.no.sapo.pt

 "Geraldo Carne e Osso" (última versão, 2005) - Estreado em 2005, na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, pelo Teatro Mínimo.

 "O Gato" (2005) – Teatro da Associação de Estudantes da Escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian de Lisboa. Estreado em 2005.

 "O Farol" (2001) - Texto resultante do trabalho sobre "A Mulher Mistério", realizado no Simpósio de Escrita dirigido por António Mercado no Dramat e publicado em 2001, nos Cadernos DRAMAT, Edição TNSJ/ Livros Cotovia (© Livros Cotovia/JPN).

 "Abril Futebol Clube" (2000), com Domingos Galamba e João Paulo Baltazar - Estreado em Abril de 2000, no Teatro Bar do Teatro da Trindade.

 "Evaporação dos Pássaros" (1999) - 2ª Versão de "Sim, Senhor", peça em 1 acto (1988). Leitura pública em Março de 1995, e representação em Outubro de 1999, em Mem Martins, pelo Grupo de Teatro Byfurcação. Leitura em 2006, na Universidade de São Paulo, Brasil.

 "Ilusões de África" (1998)- Peça curta, realizada no âmbito do projecto "Cenas de Amor e Guerra", da Efémero-Companhia de Teatro de Aveiro, editado em 1999 pelas Edições Efémero (© Edições Efémero/JPN).

 "O Naufrágio do Galeão" (1995) - Escrita no âmbito do Projecto Fronteiras, da Efémero-Companhia de Teatro de Aveiro, sob a direcção de Daniel Simon e editado em 1998, pelas Edições Efémero com o apoio do IPLB (© Edições Efémero/JPN).

 "É para os Putos que Não Querem Comer a Sopa" (1990) - 1º Prémio Cultura e Desenvolvimento 1990 (construída a partir das improvisações dos actores sobre um guião original), 3º Prémio CITAP 94.
 "Seis" (1988) - Menção Honrosa no Cultura e Desenvolvimento 1990, e no "Prémio Alves Redol" na Comuna - Teatro de Pesquisa.